20 março 2008

A ENTRONIZAÇÂO E DEPOSIÇÃO DE HELIOGÁBALO

Heliogábalo (acima) foi um instrumento no meio das ambições de três mulheres: da sua avó, Júlia Maesa, da sua mãe, Júlia Soémia e da sua tia, Júlia Mamea. A primeira era irmã da viúva de Septímio Severo, Júlia Domna, que fora imperador romano entre os anos de 193 e 211, e, consequentemente, as suas duas filhas eram primas direitas de Caracala (211-217), o imperador que sucedera a seu pai no trono e que morrera assassinado numa conspiração palaciana e fora substituído pelo argelino Macrino em Abril de 217.

A disputa do trono que se travou entre Abril de 217 e Junho de 218 travou-se na Síria, terra de origem das Júlias e local onde na altura se concentrava o grosso do exército romano em guerra contra os partos. A técnica escolhida pelas conspiradoras foi a de evocar o prestígio de Septímio Severo e a popularidade de Caracala para, realçando os laços familiares que os ligavam a este último, promover a candidatura dos primos de Caracala (os filhos de Soémia – Heliogábalo – e de Mamea – Severo) ao trono.
Heliogábalo, o mais velho tinha precedência sobre o primo. Na história das várias aberrações que ocuparam o trono romano (como Calígula, Nero, ou Cómodo) é difícil escolher alguém que tenha superado Heliogábalo em desajustamento para o desempenho daquelas funções. Heliogábalo, cujo verdadeiro nome era Varius Avitus Bassianus, é descrito como um adolescente (nascera em 204, teria 14 anos na altura da ascensão ao trono) gordo, efeminado, debochado e religioso até ao fanatismo.

A sua instalação em Roma, em Setembro de 219, veio a tornar-se num verdadeiro choque cultural, devido à sua devoção religiosa, que o faz tornar-se conhecido para a História pelo nome do deus que idolatrava – Heliogábalo. A sociedade romana dos inícios do Século III até seria extremamente cosmopolita, habituada a soluções pragmáticas, mas o seu machismo genético não a torna predisposta a aceitar pacificamente o poder feminino assumido de uma forma tão formal como a demonstrada pela moeda abaixo… Pior que isso, só mesmo o hermafroditismo assumido do imperador, chocante, ainda assim, naquele cargo, numa cidade onde já se havia visto quase tudo… Passados uns meros 4 anos (em Março de 222), antecipando a insustentabilidade (e a impopularidade) de Heliogábalo, a avó Maesa e a tia Mamea acabaram por se coligar em favor do seu outro neto e filho Severo contra a mãe Soémia e o imperador, que acabaram executados, decapitados e lançados ao Tibre, depois de uma revolta popular devidamente gerida.

O primo Severo (abaixo), que reinou de 222-235 e que originalmente se chamava Gessius Bassianus Alexianus, mas cujas agências de comunicação da época sugeriram que adoptasse o nome de Severo Alexandre (juntando as referências do nome de família do marido da tia-avó com o do imortal conquistador grego), tornou-se no novo imperador, num regime onde mãe e filha decidiam e portanto não muito distinto do anterior, mas com a vantagem de não ter um monarca a embaraçá-las pelo comportamento e reputação.

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