18 novembro 2007

A IMOLAÇÃO DO BOAVISTA

O balanço do desempenho de João Loureiro como presidente do Boavista FC que o Público de hoje (18/11/2007) nos apresenta na sua última página é sintomático da leviandade com que, frequentemente em Portugal, se apreciam os resultados dos mandatos à frente das instituições. Assim, de acordo com um desempenho que é classificado como neutro (nem positivo, nem negativo) pelo redactor, lemos:
Aparentemente, terminou a monarquia Loureiro no Boavista. O balanço do reinado do filho João é necessariamente bipolar. Por um lado, os bons resultados desportivos da equipa principal de futebol, com a conquista de um título. Por outro lado, a crise financeira em que o testemunho é passado ao sucessor é inegável, com um passivo de 46 milhões de euros.
Eu não sou sócio do Boavista FC para ter acompanhado detalhadamente a vida do clube, mas não me lembro de ter sido abordado pela comunicação social os riscos que se corriam com os planos desportivos e imobiliários implementados pelas direcções dos Loureiros e de como eles podiam fazer com que a instituição corresse o risco de descambar na catástrofe financeira em que se encontra…
Creio que o primeiro mandato da direcção de qualquer instituição é o de assegurar a sobrevivência da instituição para a sua sucessora. Preservado isso, todos os outros sonhos são possíveis… Mas só quem tenha esquecido como é importante que haja essa ordem de prioridades, é que se pode permitir escrever um comentário como aquele que reproduzi acima…
É que quando vemos a mesma atitude transposta para a esfera pessoal, todos compreendemos o absurdo da atitude de um piloto Kamikaze ou de um monge que se imole pelo fogo… Por um lado, atingem os seus objectivos; por outro, morrem… Geralmente consideramos que eles não demonstram uma grande sanidade mental… E aí não estamos a falar de se ser bipolar
É verdade que o Boavista FC não morreu… Financeiramente, só foi transferido para os Cuidados Intensivos e está com prognóstico reservado… Mas a diferença não impede que se coloque a pergunta: o que leva a que se avaliem as pessoas que desempenharam estes mandatos medíocres de uma forma tão benigna e tão diferente com a que se avaliam as outras pessoas normais?

2 comentários:

  1. A apreciação mais simpática dever-se-à aos resultados desportivos impensáveis num clube que teve de subir a pulso sem uma massa associativa ou grande património que o sustentasse de início.
    Convém também lembrar que até há poucos anos oBoavista gozava de uma boa situação financeira e apostava num tipo de formação desportiva que durante bastante tempo rendeu. O desvario financeiro tem mais a ver com a aposta nas infra-estruturas, como o novo estádio do Bessa, projectos relativamente recentes.

    ResponderEliminar
  2. E mais do que provável que tenha acompanhado a evolução da situação do Boavista FC com muito mais atenção e interesse que eu. Mas creio que tenho a sua concordância ao dizer que, para atingir este resultado, alguém cometeu erros gravíssimos de gestão.

    Contudo, não vejo João Loureiro (nem ninguém da sua direcção...) a bater com a mão no peito, em acto de penitência: “por minha culpa, por minha tão grande culpa…” Considero, ao contrário da notícia que cito, que deixar o clube nesta situação não é o simétrico de ter sido o presidente quando o clube foi campeão nacional…

    ResponderEliminar