26 novembro 2007

HECKLE E JECKLE

Vasco Pulido Valente não perde qualquer ocasião que lhe surja para, nos seus escritos, se fazer passar por um cosmopolita, aquele que esteve numa universidade de Inglaterra, que paira por cima dos comportamentos cá da parvónia. Vale a pena o gesto: cá na parvónia costumamos ser pequenos e mesquinhos, propensos a rivalidades ferozes, onde o espaço para se conseguir brilhar é acanhado e disputado. Não é concebível que se idolatre os Gato Fedorento sem primeiro nos descartarmos de Herman José, por exemplo. Simplesmente, não pode haver dois bons grupos de comediantes em concorrência...

Mas há momentos onde se revela que, por detrás daquela pose, Pulido Valente será tão filho da sua terra como os demais, sujeito às mesmíssimas regras. A sua apreciação sobre Rio das Flores, o novo livro de Miguel Sousa Tavares*, que foi publicada no Público do passado dia 24, mostra muito mérito e muito método**. Contudo, e por mais que o próprio tente desmentir no texto que escreve, durante a leitura nunca me conseguiu fazer alhear de quanto por detrás daquela crítica poderá estar a disputa pelo primeiro lugar do cronista português que consegue dizer as coisas de forma mais desassombrada… Foi esta gente para o estrangeiro e, se calhar, além da pose, não aprenderam (mais) nada...

* Sintetizada em: Vale pouco ou nada como romance histórico, é pobre e vulgar como romance de família.
** É imprescindível não esquecer, por outro lado, que Vasco Pulido Valente também já escreveu uma prosa desculpabilizando (desastradamente) as acusações de plágio (flagrante) que incidiram sobre Clara Pinto Correia, o que me faz levantar (todas as) reservas quanto à independência e idoneidade dos seus comentários.

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