11 setembro 2007

DAVID PETRAEUS, O NOVO CREIGHTON ABRAMS?

Foram de alguma forma surpreendentes as conclusões ontem apresentadas pelo general David Petraeus à Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara de Representantes dos Estados Unidos. O calendário de retirada das tropas nele contemplado, tal qual nos foi transmitido pela comunicação social, é extremamente cauteloso quando em comparação com as expectativas que haviam sido previamente geradas, ao preconizar que se regresse ao statu quo ante dos 130.000 efectivos estacionados no Iraque durante o próximo Verão de 2008.
Mais do que a barragem de informações sustentando o sucesso da decisão do reforço do contingente de tropas no Iraque (de 130 para 168 mil), em que se invocam também a aplicação de novos métodos (mas onde não vi esclarecido em que proporção se estão a obter esses resultados: porque há mais efectivos ou porque houve mudança de métodos?...), o que intriga, sobremaneira, é compatibilização deste calendário com a insustentabilidade a prazo dos actuais niveis de efectivos, dadas as carências de pessoal e o desgaste do material, como é repetidamente apontado pelos chefes militares supremos da JCS*…
As perspectivas que se oferecem depois daquele discurso parecem-me ser as seguintes: Petraeus e os generais da JCS* estão ambos a falar a sério e poderemos a assistir à implosão militar da maior potência mundial, o que é sempre pitoresco; os membros da JCS estão a fazer bluff, exagerando as dificuldades do aparelho militar norte-americano, e Petraeus deu-lhes a volta, pagando para ver, como se faz no póquer; ou, finalmente, o que importa é a aparência e o plano de Petraeus não é para cumprir porque se arranjarão pretextos vários para acelerar a saída das tropas.
Já se sabe que George W. Bush, compreensivelmente, não gosta das analogias entre esta guerra do Iraque e a do Vietname. Só que elas não cessam de surgir… Todos os entendidos em história militar sabem como a derrota no Vietname costuma ser atribuída ao general William Westmoreland, comandante daquele teatro de operações entre 1964 e 1968. Depois foi nomeado o general Creighton Abrams, que se tornou num herói da mitologia militar norte-americana e que até deu o nome de baptismo ao carro de combate M-1 Abrams (acima).
Creighton Abrams foi o encarregado de reduzir o contingente norte-americano no Vietname de 535.000 (1968) para 30.000 (1972) efectivos, conforme as directivas políticas da Administração Nixon. Passados 3 anos, o Vietname do Norte ganhou a guerra, os Estados Unidos perderam-na, mas tentaram-se salvar as aparências e Abrams tornou-se um herói… É o equivalente moderno e em grande escala dos episódios oitocentistas da guarnição evacuando a fortaleza a marchar com a banda à frente, tocando e disfarçando a derrota…

Será este o papel político-militar reservado para David Petraeus? É verdade que o seu antecessor precisou de todo um mandato presidencial de 4 anos (1968-72) para que a evacuação (chamou-se vietnamização da guerra...) não tivesse aspecto que o era... Por outro lado, as outras alternativas apontadas acima são assustadoras, entre a constatação da incompetência total entre as chefias máximas do aparelho militar norte-americano e as perspectivas da falência próxima desse aparelho, por usura…

* Joint Chiefs of Staff : Comité dos Chefes de Estado-Maior das Forças Armadas norte-americanas.

4 comentários:

  1. Mas o Bush tem razão em não confundir o Iraque com o Vietname.
    Embora não nos esqueçamos que enquanto Presidente visitou os dois países.

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  2. De facto, entre a sua infindável lista de gaffes, George W. Bush não parece ter nenhuma em que troque o nome dos países que visita, ao contrário de Reagan que, em visita ao Brasil, a certa altura agradeceu ao povo da Bolívia...

    Tudo uma questão de confusão a partir da primeira letra.

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  3. Bem, eu queria dizer que enquanto soldado o George não visiyou o Vietname.

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  4. Nesse sentido, João Moutinho, por toda a roupa suja que apareceu na camapanha presidencial de 2004 (não desmentida), enquanto soldado o George não esteve em lado nenhum, nem no Texas sequer, porque nem deve ter cumprido o serviço militar...

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