05 agosto 2007

O CAÇADOR

Estou convencido que quase todos os que viram na época da estreia este filme de 1979, que teve o sucesso de ter sido um dos pioneiros a abordar as sequelas dos que haviam participado na Guerra do Vietname, se lembrarão dele especialmente pelo impacto violento das cenas da roleta russa (abaixo) onde, alegadamente, os norte-vietnamitas obrigavam os seus prisioneiros a participar.
Noutros aspectos, considero que o filme ficou marcadamente datado, e que o estilo deliberadamente vagaroso do realizador Michael Cimino, e as consequentes três horas de duração do filme, se tornaram cada vez mais difíceis de suportar. É um filme que criou os seus admiradores fiéis (onde me incluo) mas suponho que dificilmente adquire outros entre as gerações mais novas.
Sem nunca chegar a ser um filme de guerra no sentido clássico, na medida em que nunca se chega a ver qualquer dos protagonistas a comportarem-se como soldados enquadrados numa organização militar (como acontece, por exemplo, em Platoon), um dos aspectos nele que mais me impressionou, é a forma brusca e, de certa maneira, traiçoeira com que o filme se torna extremamente violento.
Na cena final da extensa primeira parte do filme, depois de todo o regabofe da festa de casamento, da caçada, de cerveja e mais cerveja, George Dzundza (acima, é o segundo a contar da esquerda) senta-se ao piano no bar e como que adormece os espectadores com a sua interpretação de uma parte do Nocturno nº6 de Chopin (ouça-se aqui) enquanto a câmara voga pelos olhares sonhadores dos seus amigos.
Ainda se sente o conforto dos acordes da peça de Chopin no ar, quando as imagens nos mostram um guerrilheiro vietcong a deitar uma granada para um abrigo repleto de civis vietnamitas, para depois o mesmo guerrilheiro vir a ser morto a lança-chamas por Robert de Niro. É uma transição impressionante e, para mim, depois do filme, os acordes iniciais do Nocturno nº6 de Chopin passaram a significar o prenúncio de algo desagradável...
Na continuação dessa cena (acima) os três amigos reencontram-se (Robert de Niro, Christopher Walken (de costas) e John Savage) mas apenas para não tardarem a ser aprisionados…

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