25 junho 2007

OS MICRO-ESTADOS EUROPEUS – MÓNACO

O Mónaco nem chega a ser um estado muito pequeno, é literalmente o micro-estado: com os seus 3,18 Km de largura máxima, se sairmos para passear e mesmo que andemos na maior das calmas, ao fim de uma hora e se não voltarmos para trás, estamos em França… A área total do país não chega a 2 Km.² (1,97) e mesmo assim, cerca de 20% dela resultam de aterros ganhos ao mar. De um lado fica uma fronteira terrestre de 4,4 Km com a França e de outro a costa mediterrânica, que se prolonga por 4,1 Km.
Entre uma população extremamente cosmopolita (estava cifrada em 32.000 habitantes no recenseamento de 2000), contavam-se 6.100 nacionais (19%), 10.200 franceses (32%), 6.400 italianos (20%), 1.700 britânicos (5%), 900 suíços (3%), 800 alemães (2,5%), 800 belgas (2,5%)… O Mónaco é, desde há muito, reputado por ser um país muito benevolente com o regime fiscal que aplica àqueles que residem (ou assim se registam*) no seu território. É um país rico porque é habitado por pessoas ricas.

A História medieval do Mónaco é desinteressante, parecida com a de muitos pequenos feudos que existiam por toda a Itália. Durante bastante tempo esteve dependente da importante cidade de Génova, célebre pela rivalidade comercial no Mediterrâneo com a de Veneza. A outra potência que servia aos senhores locais de equilíbrio contra a influência genovesa era a França: no Século XVII, Luís XIV, o famoso Rei-Sol de França, era o padrinho do príncipe Luís I do Mónaco (1662-1701).

O Mónaco nunca foi importante, mas começou a adquirir notoriedade em meados do Século XIX, quando se começou a divulgar a actividade do turismo entre os extractos mais elevados da sociedade e a explorar as condições de autonomia legislativa que o Mónaco possuía. Fazer lóbi para que se abrisse um Casino tinha muito mais possibilidades de sucesso no Mónaco do que em Paris e foi isso veio mesmo a acontecer em 1856, com a concessão dos jogos a dois franceses, Langlois e Aubert.
Em 1861, com a unificação italiana e a alteração das fronteiras franco-italianas com os contornos que hoje têm (a cedência da Sabóia e da região de Nice à França), o Mónaco caiu definitivamente sob a influência francesa. E em 1863 a Societé des Bains de Mer** procedia à inauguração do hoje famosíssimo Casino de Monte Carlo (acima). Economicamente, as receitas fiscais do jogo permitiram que viesse a existir no principado uma carga fiscal muito ligeira sobre os habitantes, precursora da situação actual descrita acima.

Em 1918, houve uma crise de sucessão dinástica, cujos detalhes teriam feito as delícias dos tablóides contemporâneos. Em poucas palavras, o príncipe reinante estava velho (Alberto I tinha 70 anos) e o príncipe herdeiro, então com 48 anos, e que viria a ser o príncipe Luís II (1922-49), não tinha descendentes legítimos o que, de direito, tornaria no herdeiro do trono futuro um dos seus primos, de uma casa ducal alemã, coisa que a França nunca estaria disposta a tolerar – recorde-se que se estava em plena Primeira Guerra Mundial…

Para contornar o problema, que faria com que a França anexasse o Mónaco se a isso tivesse de chegar, houve que legitimar e colocar na ordem de sucessão ao trono uma filha – Carlota – que o herdeiro Luís tivera com uma cantora, enquanto cumpria o serviço militar no exército francês e estivera colocado na Argélia... Feito isso, a princesa foi casada com um conde de Polignac, de uma família da velha nobreza francesa, de quem teve dois filhos, um dos quais veio a ser o príncipe Rainier III (1949-2005).
O Mónaco mantivera-se sempre na crista da onda quanto a estar na moda e à criação dos eventos que se tornaram indispensáveis para a sua notoriedade e prosperidade. No automobilismo, por exemplo, 1911 foi o ano da realização do primeiro Rally de Monte Carlo e o inconfundível e popularíssimo Grande Prémio do Mónaco (que se disputa num circuito urbano, traçado nas ruas do principado - acima) começou-se a disputar a partir de 1929. O AS Mónaco FC, hoje um dos maiores clubes franceses, data de 1924.

Depois da Segunda Guerra Mundial o turismo tendeu a banalizar-se cada vez mais e tornou-se importante para o Mónaco a captação do turismo de luxo norte-americano numa Europa então empobrecida. É nesse quadro que se compreende a organizaçõas do grande evento que foi o casamento do príncipe reinante (Rainier III) com uma estrela de cinema norte-americana, Grace Kelly. Foi uma forma simples, mas eficaz, de concentrar as atenções das revistas de mexericos (tipo ¡Hola!) no principado.
Para comprovar o sucesso da contínua campanha publicitária do Mónaco experimente-se fazer uma sondagem nas frequentadoras dos cabeleireiros sobre a identidade dos monarcas e a composição das casas reais das monarquias e ver-se-á como, depois da britânica e talvez da espanhola, a do Mónaco precede todas as outras europeias em notoriedade - Suécia, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Holanda, para não mencionar as não europeias como as do Japão, Tailândia, Marrocos ou Jordânia…
Curiosamente, a especialidade que costuma manter a casa real monegasca nos cabeçalhos das revistas de mexericos – vida sentimental atribulada – é uma actividade em que a família Grimaldi de há muito se especializou: tem-se descoberto ao príncipe actual, Alberto II (acima), uma colecção de filhos ilegítimos e a sua irmã mais nova (Estefânia) tem uma interessantíssima vida sentimental, mas já a avó deles, Carlota (a tal que fora legitimada), tivera por amante (entre outros) o ladrão de jóias (reformado) René la Canne, para não contar as interessantes histórias da tia e da trisavó

* É o caso de algumas vedetas de várias modalidades do desporto profissional, que estando a competir à volta do Mundo, apenas ali têm o seu domicílio fiscal e raramente lá se encontram.
** Sociedade dos Banhos de Mar

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