12 abril 2007

POR DETRÁS DO CANUDO



Um discreto artigo do The Economist desta semana (Media Wars, p. 27) chama-nos a atenção para uma disputa que se trava em Espanha entre o PP (Partido Popular) e o senhor Jesus de Polanco, patrão do grupo PRISA. O Partido Popular teve 9.763.000 votos (38,3%) nas últimas eleições e tem 148 deputados no Congresso, o senhor Polanco detém o controlo de vários órgãos de comunicação social, entre os quais o jornal El País ou as várias rádios da Cadena SER.

E o problema começou porque Jesus de Polanco disse algo com o qual até concordo plenamente, já o tendo referido aqui no blogue: que, no geral, o PP espanhol se conta entre o que há de mais retrógrado entre as várias direitas europeias. Na sua opinião, o país precisava de um partido de direita, moderna e secular. É natural que o PP não se incomode muito com a minha opinião, mas reagiu com veemência à de Polanco, instruindo os seus membros para boicotarem os órgãos de informação do grupo PRISA.

O resto do artigo espera que o bom senso das partes acabe por prevalecer, dado que as partes só tem a beneficiar com a colaboração recíproca. Mas fica a nota da importância nacional que um patrão de um grande grupo de comunicação social pode adquirir, quando, como é o caso, se pode defrontar de igual para igual com o maior partido da oposição… Note-se que, depois de Bill Gates, nas listas dos mais ricos, quase ninguém sabe quem é o segundo, terceiro, quarto, até chegar a Ted Turner – e à sua CNN…

Mas todas estas considerações são um preâmbulo para reflectirmos sobre o que aconteceu recentemente em Portugal. Começando isoladamente pelo jornal Público (de Belmiro de Azevedo) a que se veio a juntar posteriormente o Expresso e a SIC (de Francisco Balsemão) tivemos direito a um período de uma quinzena informativamente muito animada com as mais diversas considerações sobre as qualificações académicas do primeiro-ministro, que decorreu perante a passividade das oposições políticas.

Por absurdo, se José Sócrates se demitisse, desconfio que a opinião dominante sobre quem seria o grande obreiro do derrube político do primeiro-ministro seria… José Manuel Fernandes, director de jornal. Foi também interessante observar como só a adesão do Grupo Balsemão (através do Expresso) deu à causa a massa crítica para que ela se tornasse dominante na comunicação social, cilindrando acessoriamente a dignidade de alguns jornalistas que lá trabalham (como Nicolau Santos).

Tudo isto acontece ao mesmo tempo que o PSD deu mostras de ter uma ideia diferente, o que, sendo raro, é sempre de saudar: a privatização da RTP! Como vem sendo hábito, os adeptos da liberalização esquecem-se sempre dos efeitos perversos de escala em pequenos países que distorcem a concorrência pura para a formação de oligopólios. E o argumento ideológico seguinte – a globalização – não faz qualquer sentido no ramo da comunicação social: não vislumbro grandes exportações de conteúdos jornalísticos de Portugal para a Alemanha…

Num mundo ideal, as opiniões do senhor Polanco e as opções do senhor Balsemão diluir-se-iam num enorme mar de outras, distintas. Na realidade isso não se passa e, pelos dois exemplos, percebe-se como o problema se coloca tanto à direita como à esquerda do espectro partidário. No mundo concreto, e talvez cínico, se apenas se põem as más opções do governo ter um grupo de comunicação social ou um grupo de comunicação social ter um governo, eu prefiro descaradamente a primeira...
É que de vez em quanto, perguntam-nos o que é que achamos do que eles andam a fazer… E isso, na minha opinião, confere uma legitimidade indisputável do PP (de Mariano Rajoy) e de José Sócrates sobre Jesus Polanco, Belmiro de Azevedo ou Francisco Balsemão...

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