18 março 2007

OS CAIXÕES VOADORES E OS HOMENS DAS ASAS DE OURO

Ao longo da História da Aviação já houve imensos aviões que ganharam a duvidosa reputação de serem classificados pelos pilotos por caixões voadores. A causa dessa alcunha não é difícil de adivinhar, embora houvesse casos em o título se devia às características do próprio aparelho, e noutros, em situação de combate, a causa fosse a obsolescência tecnológica face aos adversários…
No primeiro caso, falho de um julgamento definitivo, no campeonato cerrado sobre o aparelho que mais merecerá aquela distinção, apenas posso assegurar que o avião representado nestas fotografias está muito bem classificado. Trata-se do norte-americano Vought F7U-3 Cutlass, um caça a reacção concebido a partir do final da Segunda Guerra Mundial para operar a partir dos porta-aviões da Marinha.
O desenho arrojado no ar era complementado por uma inclinação acentuada quando pousado que lhe dava um aspecto esquizóide e que escondiam um comportamento em voo extremamente instável. Dos três protótipos originais, que iniciaram os testes em 1948, dois perderam-se logo nas primeiras semanas e o sobrevivente veio a perder-se em 1950, enquanto novos protótipos eram criados, corrigindo os sucessivos erros que eram detectados…
A terceira versão (daí a designação F7U-3) acabou por entrar ao serviço em 1954, mas começou a ser retirada logo três anos depois disso, quando apenas 300 unidades haviam sido construídas. A sua taxa de acidentes rondava uns horrorosos 25%, com a perda de mais de 80% dos aviadores envolvidos. A maioria dos outros aparelhos embarcados tinha índices de segurança em tempo de guerra superiores aos do Cutlass em tempo de paz…
Para quem aprecie BD e aviação é possível que se recorde de um avião bizarro, mas de grandes performances, que saiu da imaginação de Albert Weinberg, autor de Dan Cooper, numa história chamada Os Homens das Asas de Ouro*. O tal avião, como se vê pela capa do livro, tem muitas semelhanças com o F7U-3 e um estilo bastante atraente. Mas nunca voou… a não ser nas páginas daquela história. Há aviões que nunca deviam ter saído da prancheta do desenhador.
* Também saiu, em continuação, no primeiro ano da revista Tintin portuguesa do nº1 ao nº15 (1968).

4 comentários:

  1. Como nas entregas de prémios dá vontade de exclamar:
    - E o vencedor é... o “Lockheed F-104, Starfighter”!

    Creio que nenhum outro avião se pode orgulhar de ter matado tantos pilotos...

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  2. É tudo um efeito de escala e publicidade, impaciente. Foram construidos cerca de 2.600 F-104 (durante 20 anos...) mas apenas 300 F7U-3.

    Num dos países mais sacrificados, a Alemanha, que teve um pouco mais de 900 F-104, morreram 115 pilotos (12%), mas durante cerca de 20 anos de operações.

    Com o F7U-3, morreram 21 pilotos (7%), mas em menos de 5 anos... Os F7U-3 forma quase literalmente deitados para o lixo...

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  3. As percentagens são, de facto, favoráveis aos F7U-3 mas é inegável que, em número de vítimas... o “F-104” deve ter batido todos os recordes!

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  4. Existe um pormenor interessante no que diz respeito ao “F-104”.
    Embora seja um “foguetão”, com asas minúsculas (quase sem sustentação) é ainda utilizado, sem armamento, por amadores de emoções fortes, que os compraram em leilões da USAF.
    Como curiosidade, todos referem que é um avião “que não perdoa erros!”.

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