24 janeiro 2007

O QUE TERIA ACONTECIDO EM 1919…

Há quem ainda hoje não compreenda a decisão tomada pelo Alto Comando alemão de pedir um armistício aos Aliados, que lhes foi concedido em Novembro de 1918, quando o Exército alemão ainda continuava a ceder terreno, mas sem ter sido derrotado e sem que os Aliados ainda tivessem entrado em território alemão. Mas, na minha opinião, esta antecipação de um acontecimento que sabia inevitável foi uma das decisões políticas mais relevantes e inteligentes de Erich Ludendorff, o cérebro – como Vice Chefe de Estado Maior e Quartel Mestre General – por detrás da máquina de guerra imperial alemã.

Falhadas as Ofensivas alemãs do primeiro semestre de 1918, o tempo estava a trabalhar em favor dos Aliados, com o aumento da participação do Exército norte-americana na Guerra. Sabendo-se o que aconteceu na altura, é muito menos conhecido aquilo que estava previsto acontecer. Explicado com alguns exemplos e números, os americanos – que tinham entrado na Guerra em 1917 – passaram 1918 a construir as infra-estruturas logísticas em 9 portos franceses (Le Havre, Cherbourg, Brest, St. Nazaire, Les Sables d´Olonne, Rochefort, Bordéus, Bayonne e Marselha) para a recepção e expedição para as frentes de combate do material chegado dos Estados Unidos.

Traduzido em números, a capacidade de carga e transporte desses portos (apenas na parte que seria exclusivamente destinada aos norte-americanos) passou de 10.000 toneladas diárias em Abril de 1918, para 30.000 em Novembro desse ano, e estava previsto que essa capacidade tornasse a triplicar (para as 100.000 toneladas) até meados de 1919. Em efectivos, os Estados Unidos tinham 5 divisões em França em Março de 1918, que já eram 42 em Novembro, de um total que rondaria as 100 que estariam previstas colocar em França em Dezembro de 1919, o que totalizaria cerca de 3,5 milhões de homens em armas (apenas em França).
Como medida de comparação, ao terminar a guerra em Novembro de 1918, os efectivos globais dos seus principais aliados eram (em milhões) de 2,8 (França), 2,3 (Reino Unido) e 2,2 (Itália). Os da Alemanha, em princípios de desagregação e mais difíceis de estimar por isso, oscilariam entre os 5,5 e os 6 milhões. Não é difícil de prever o que teria acontecido em 1919: a participação americana na Guerra ter-se-ia demonstrado ainda mais decisiva para o seu desfecho. A decisão de Ludendorff poupou aos alemães muitas humilhações mas também foi aproveitada por franceses e britânicos para se arrogarem depois um falso estatuto de Grandes Potências em paridade com os Estados Unidos.
Do lado positivo, graças ao gesto de Ludendorff, muitas vidas terão sido naquela altura poupadas. Mas, como dizia um seu compatriota (Clausewitz), a vitória militar obtém-se quando se retira ao inimigo a vontade de combater. Ora aqui, parece ter-se ficado mais com a impressão que essa vontade foi mais cedida do que retirada. Adolf Hitler e, com ele, muitos milhões de alemães nem perceberam como haviam sido justamente derrotados e passado ao lado de uma humilhação ainda mais violenta. Em Maio de 1945, no meio das ruínas de Berlim, era visível que os vencedores daquela vez já não haviam repetido o mesmo erro político...

Sem comentários:

Enviar um comentário