14 janeiro 2007

O CREPÚSCULO DAS CARGAS DE CAVALARIA

A segunda metade do Século XIX assistiu ao lento ocaso do papel tradicional do poder de choque da cavalaria nos campos de batalha. Num poste anterior, referi-me à carga suicida (e ineficaz) da Brigada Ligeira britânica na Guerra da Crimeia (1854). Uma das testemunhas, um general francês sintetizou por todos o episódio que estava a presenciar: É magnífico, mas isto não é a guerra (C´est magnifique, mais ce n´est pas la guerre).

Passados 16 anos, o mesmo exército a que pertencia este lúcido analista, estava a usar a sua Brigada Pesada do general Alexandre Michel, composta sobretudo por couraçeiros (que estavam protegidos com as couraças da imagem de cima), para repelir os prussianos numa das batalhas da Guerra Franco-Prussiana (1870). A carga desintegrou-se sob o fogo da artilharia e da infantaria: 800 dos 1200 elementos da unidade haviam sido abatidos!

Embora o tronco do cavaleiro estivesse protegido, nada protegia o cavalo… que é muito maior, e mais fácil de atingir que o cavaleiro com o mesmo efeito (senão melhor: o cavalo ainda pode continuar a cavalgar sem cavaleiro, enquanto este não continua a correr sem cavalo…) de anular o ímpeto da carga de cavalaria E era o facto dos cavaleiros carregarem em conjunto para produzirem o necessário efeito de choque que tornava, paradoxalmente, a sua derrota mais fácil.
No início do filme Danças com Lobos (1990), Kevin Costner, oficial nortista durante a Guerra Civil americana (1861-65), a quem estavam prestes a amputar uma perna, tem um ataque suicida e, montando a cavalo, vai passear-se para a frente das linhas confederadas atravessando-se diante delas a galope por um punhado de vezes perante a frustração dos seus soldados que não lhe conseguiram acertar. De acordo com os dados históricos, o episódio não seria tão estranho quanto isso.

As estatísticas da Guerra Civil norte-americana demonstram que, entre as tropas federais, se gastavam 500 Kg de pólvora e chumbo para abater cada soldado confederado… E entre os seus oponentes confederados, os valores não deviam ser muito distintos. Ainda em 1870, num recontro da mesma Guerra Franco-Prussiana, as tropas bávaras, com armamento tecnologicamente muito semelhante, gastaram 56.000 cartuchos para infligirem menos de 200 baixas aos franceses!...

Era a concentração dos cavaleiros, que havia feito a sua força no passado, que os transformava em alvos facílimos de atingir pela infantaria. Mesmo numa carga bem sucedida, como a da Brigada Ligeira do general von Bredow, perderam-se 420 dos 800 elementos que a haviam iniciado. Ora, perderem-se mais de 50% dos efectivos de uma unidade tão difícil de formar, apenas se justifica quando o resultado da acção é decisivo para o desfecho da batalha. E isso já não acontecia…

2 comentários:

  1. E, por último, as cargas da cavalaria polaca face à cavalaria alemã, durante a ocupação da Polónia, no começo da II Grande Guerra...
    O único problema foi a utilização dos “cavalos Panzer” pelos alemães, o que lhes deu uma vantagem esmagadora!!!

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  2. Para essa, Impaciente, em 1939, já nem adjectivos tenho...

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