25 janeiro 2007

AS TERRAS DE LESTE PERDIDAS PELA ALEMANHA

O mapa de cima mostra os contornos da Alemanha em 1918 com as suas fronteiras respectivas. A Alemanha actual é composta pelas regiões assinaladas com a cor azul mais escura enquanto tudo o que aparece colorido em diferentes tons de azul celeste, grená, verde e amarelo, representam territórios perdidos por ela em 1919 (azul celeste e grená) e 1945, a grande maioria dos quais para a Polónia.
Como se pode ver nesta representação das populações dessas regiões orientais, feitas com base no recenseamento realizado em 1910 pelas autoridades alemãs, uma percentagem apreciável da população que nelas habitava era reconhecidamente polaca. Como se pode ver em mais detalhe (clicando em cima do mapa), em cada região, as cores utilizadas vão escurecendo à medida que a percentagem da população polaca vai aumentando. Os polacos predominavam nas províncias de Posen e da Prússia Ocidental e no Sul da Prússia Oriental e da Silésia.
No seguimento da derrota alemã da Primeira Guerra Mundial, as províncias dos mapas anteriores onde havia maior concentração de polacos foram cedidas pelos alemães ao novo estado polaco. No Sul da Silésia (com 60%) e no da Prússia Oriental (com mais de 90%) foram realizados plebíscitos com resultados globalmente favoráveis à opção pela Alemanha. Mesmo assim, com as novas fronteiras, a Polónia veio a obter um acesso ao mar Báltico, mas não um porto natural, porque a população da antiga cidade hanseática de Danzig (a cinzento, a oeste da Prússia Oriental) era maioritariamente alemã.

A cidade foi assim separada da Alemanha, transformada num estado autónomo sob a protecção da Sociedade das Nações (SdN), onde os polacos possuíam direitos de trânsito especiais, enquanto se encarregavam de construir na sua secção de costa uma cidade portuária a partir de um porto artificial: Gdynia. Mas a Alemanha ficara divida, o que se transformaria num dos pretextos para as reivindicações de Hitler que levaram à invasão da Polónia e à Segunda Guerra Mundial. No final da Segunda Guerra Mundial (1945) as fronteiras voltaram a ser redesenhadas mas agora associada à brutalidade dos métodos soviéticos que retraçou as fronteiras e forçou as populações a deslocarem-se de acordo com os novos traçados para evitar a existência de minorias étnicas do lado errado da fronteira que pudessem vir a ser usadas como arma política no futuro. Ainda hoje não se pode precisar quantos milhões terão sido deslocados.

Como se pode ver pelo mapa acima, a União Soviética anexou uma substancial parcela da Polónia Oriental para as juntar à Bielorrússia e à Ucrânia dando-lhe em troca os territórios alemães do Leste. Podia-se argumentar que Estaline estava a recuperar território que pertencera outrora ao Império Russo dos czares, mas entre as suas novas aquisições houve territórios que nos séculos anteriores dependeram do Império Austríaco e nunca haviam sido russos.

Em suma, Estaline pôs a Polónia (e os polacos) a rebolar umas centenas de quilómetros para ocidente. Cidades que desde há séculos eram conhecidas e famosas pelos seus nomes germânicos recuperaram as suas versões polacas, como Breslau, que se transformou em Wroclaw, e Danzig que recuperou o nome eslavo de Gdansk, futuramente célebre como local de nascimento do Solidariedade.
Em consequência, como se vê no mapa acima, a maioria dos territórios de Polónia moderna eram prussianos há 150 anos e representasse a terra e a agricultura o potencial de riqueza que tinha representado até aí (antes da Revolução Industrial), os polacos teriam todos os motivos para recear o retorno dos alemães. Mesmo assim, a riqueza carbonífera da Silésia não os deixa descansados quanto ao que poderão ser as futuras intenções alemãs… Mas nestes tempos modernos, usando o dinheiro* (e na Alemanha têm-no), um país pode conquistar outro e não usar um só soldado. Parece não haver grandes hipóteses (nem necessidade...) que tiros se troquem ao longo da linha Oder-Neisse.

* A aquisição por alemães de propriedades na Polónia e na República Checa tem condicionamentos.

2 comentários:

  1. Nunca tinha pensado nesta “revisão” das fronteiras, em plena Europa!
    Com esta explicação até se compreende que as fronteiras traçadas pelos colonizadores europeus, em África, não primassem pelo rigor!
    Se “em casa” era assim... a “jogar fora” só podia ser pior!

    ResponderEliminar
  2. Houve a vantagem de, ao traçar as fronteiras em África, não ter de levar em linha de conta as afinidades étnicas da população.

    Como se vê por este post, na Europa esse aspecto às vezes era considerado, outras nem tanto.

    ResponderEliminar