22 novembro 2006

QUANDO METE MERDA…

Quando os ditados populares têm palavrões do tipo merda costumam-se amenizá-los, dizendo que recorrem ao português vernáculo e invocando-se Gil Vicente e Bocage. Exemplo típico do que acabei de dizer, A merda é sempre a mesma só as moscas é que mudam, por alusão à luta política, aos políticos e ao rotativismo parlamentar do período da monarquia constitucional da segunda metade do Século XIX e do inicio do XX.

Terá sido por uma associação livre e por contradição que me lembrei de moscas que não mudam, e associei-a à reacção inequivocamente corporativista da classe dos jornalistas – se a dos outros é censurável, ainda alguns deles nos quererão convencer que a deles nem por isso… - em contestação à próxima abolição do regime especial de previdência e outras regalias sociais de que gozam.

A contradição entre essa atitude e as opiniões que se haviam lido previamente por toda a comunicação social, condenando reacções similares verificadas com outros grupos profissionais, como foram os casos dos polícias ou dos militares, apenas se torna caricaturalmente cómica, além de compreensivelmente humana, que já há muito tempo assim havia pregado frei Tomás…

Ou, para se adequar ao ambiente escatológico do poste, parece que os jornalistas só se aperceberam da crise e quão estávamos todos na merda quando o cheiro da dita lhes chegou finalmente ao nariz…

3 comentários:

  1. Muito recentemente saiu a rifa à Tolerância,excelsa virtude que conheceu o seu dia internacional, glória suprema e iniciativa que aplaudimos entusiasmadíssimos.
    Ora, tolerância é coisa que todos nós temos para dar, emprestar e vender desde que não sejamos afectados, prejudicados ou beliscados.
    Se eu moro num condomínio fechado, nada me custa apregoar essa coisa bela que é a tolerância para com os ciganos ou os pretos das Marianas.
    É o que fazem os jornalistas. Ou melhor, fizeram enquanto, da sua torre de marfim, dissertaram sobre as maleitas alheias.
    Agora, bate-lhes à porta e lá vêm os gemidos e as dores de barriga que, como é sabido, dão em merda, pois claro.
    Já agora, para quando o dia internacional da merda?
    Como diz? Tem razão, por cá não é preciso, todos os dias são...dias.
    Sem querer fazer propaganda às conhecidas meias, o tal dia bem poderia ser DIM, Dia Internacional da ...

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  2. Do seu «post» destaco a seguinte passagem :

    "A contradição entre essa atitude e as opiniões que se haviam lido previamente por toda a comunicação social, condenando reacções similares verificadas com outros grupos profissionais, como foram os casos dos polícias ou dos militares, apenas se torna caricaturalmente cómica, além de compreensivelmente humana, que já há muito tempo assim havia pregado frei Tomás…
    Ou, para se adequar ao ambiente escatológico do poste, parece que os jornalistas só se aperceberam da crise e quão estávamos todos na merda quando o cheiro da dita lhes chegou finalmente ao nariz… "

    E, logo a seguir, só posso lamentar que reproduza um truque argumentativo - o da contradição entre o que se disse sobre outros e o que dizem sobre si próprios -que quase sempre, pelo menos desde há uns dias, está presente na argumentação dos que defendem as posições do governo de extinção da Caixa.
    Ora, aqui está um ponto que não autoriza generalizações.
    Pode haver um caso ou outro de jornalistas, ou alguns jornalistas, que caíram nessa contradição mas não foram todos nem está feita a prova de que a maioria ou parte significativa dos que já assinaram o manifesto do Sindicato o tenham feito.
    Até não acho mal que se citem os nomes dos que caíram em contradição. Mas já não acho decente é que todos paguem por aquilo que não fizeram ou disseram.

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  3. É de toda a justiça, Sara, dar-lhe a razão que lhe reconheço devida: nem todos os jornalistas entraram na contradição que mencionei no poste. Mais do que isso, não sei e creio que ninguém saberá quantos serão os que o fizeram. Ainda mais, haverá até distinções a fazer entre os que o fizeram e a forma como o fizeram. E teoricamente subscrevo e até reforço o que escreveu: “Ora, aqui está um ponto que não autoriza generalizações.”A maioria dos assuntos, aliás, não autorizaria generalizações.

    Mas o Mundo, a começar pelo mundo das notícias, não é feito deste rigor, pois não Sara? Vale a pena dar um exemplo simétrico aos dos problemas profissionais dos jornalistas? Sabe, ou saber-me-á indicar quantos militares se sentiram representados ou não com as manifestações da semana passada? Ora aí estaria outro ponto que, para muitos militares, não autorizaria generalizações. Mas eles – e todos os outros grupos profissionais – não têm o acesso facilitado aos circuitos de informação, pois não?

    Talvez a novidade naquilo que designa por reprodução do truque argumentativo – que é antigo, talvez os alvos é que não estejam habituados a ser atingidos por ele - esteja apenas na existência de uma blogosfera que embora com muitos jornalistas não tem APENAS jornalistas. Porque pagar, Sara, pagar a sério, em sacrifícios e em dinheiro, devemos pagar todos e o mais equitativamente possível.

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