24 novembro 2006

A IMPORTÃNCIA DE FORTIFICAR ANNAPOLIS

Embora a democracia inglesa seja muito gabada pela sua precocidade (Século XVIII), a verdade é que a proporção dos que nela participavam nessas fases iniciais em relação à população britânica total da época (entre 1 a 2% do total), a transforma em exemplo tão bom quanto o ateniense – o exemplo tradicionalmente utilizado – daquilo que é uma democracia imperfeita, apenas formal.

Essa característica também se transpunha para a falta de qualidade em geral dos políticos e dos governantes britânicos daquela altura, visto o campo de recrutamento se limitar a uma classe social de efectivos muito reduzidos. Convém, contudo, dizer que, sendo as hierarquias e estruturas sociais rigorosamente as mesmas, o mesmo se passava com todos os outros países europeus da época.

Claro que a falta de concorrência também fazia com que os verdadeiramente dotados ficassem no poder por 21 anos – como aconteceu com Sir Robert Walpole, que foi primeiro-ministro de 1721 a 1742 – ou alcançassem o cargo supremo aos 24 anos de idade – Sir William Pitt, o Novo, tornou-se primeiro-ministro em 1783, depois de ter sido chanceler do Tesouro por um ano, antes disso.

Mas é sobre os menos brilhantes que quero falar, neste caso precisamente de Sir Thomas Pelham-Holles, Duque de Newcastle, que foi primeiro-ministro por duas vezes, entre 1754 e 1756 e depois entre 1757 e 1762, no meio das vicissitudes da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que opuseram o Reino Unido e a França pelo controle das colónias da América do Norte e que terminaram aliás com a vitória dos britânicos.

Houve uma certa ocasião em que alguém fez notar ao Duque a conveniência que se fortificasse Annapolis. Annapolis?, respondeu, evidentemente fortificaremos Annapolis. Mas onde é que ela se encontra, exactamente?. A geografia não era o forte do pobre Duque, e naquela época ainda não havia sido inventada aquela figura do consultor culto incumbido de, soprando-lhe ao ouvido, safar o político destas enrascadas*.

Mas, para além do pobre Duque não ter percebido que o problema das fortificações na América do Norte tinha que ser sempre analisado na sua globalidade (que prioridades estabelecer em função dos recursos disponíveis), há que reconhecer que a estrela do diálogo acima descrito é mesmo o autor do bitaite inicial, o que alertou o Duque para a importância de Annapolis e o pôs a correr atrás da bola…

250 anos depois, precisamente aquela mesma técnica de bitaite continua viva, de boa saúde e continua a fazer efeito. Temos oportunidade de a ver, por exemplo, quando se abordam as relações exteriores de Portugal, e se comenta como têm sido negligenciadas as relações de Portugal com a Índia, ou com o Japão, ou com a Argentina, ou com qualquer outro país que venha ao caso…

Consideradas isoladamente, os Negócios Estrangeiros podiam sempre ter feito melhor quanto às relações entre Portugal e o tal outro país. Suspeito é que, mesmo que a assistência o faça, os governantes destinatários de tal discurso já não caiam na armadilha onde outrora o pobre Duque se espalhou… Por curiosidade, Annapolis é hoje uma pequena cidade (36.000 habitantes), capital do Estado norte-americano de Maryland.

* Às vezes falha. Lembrem-se do Guterres que acabou a mandar fazer as contas que ele não sabia fazer...

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