30 outubro 2006

A DOUTRINA BUSH

Às vezes, é em pequenos (ou grandes) detalhes que se percebe como os Estados Unidos, apesar de serem o país mais poderoso do planeta, cada vez mais mostram uma capacidade de liderança medíocre, apesar de todo o seu poderio. E, refira-se que no exemplo que aqui quero mostrar, nem sequer é George W. Bush que está pessoalmente em causa, mas a percepção que a imprensa norte-americana demonstra ter de qual serão os interesses de leitura dos seus leitores por contraste com o que acontece com a imprensa europeia.

O tema que serve de comparação é o destaque dado aos resultados das eleições presidenciais brasileiras, vencidas por Lula. No Le Monde francês e no El Mundo espanhol é um acontecimento que tem o destaque de segunda notícia mais importante. No Washington Post e no LA Times é um pormenor da secção de notícias do mundo. Não seleccionei os jornais. Acresce que aos jornais europeus não se pode adicionar a justificação adicional para o destaque dado por se tratar de uma antiga colónia com quem se compartilha uma parte do passado e um idioma comum.

Pelo contrário, o Brasil fica situado na área geográfica das Américas que os Estados Unidos tradicional e historicamente consideraram como estando dentro da sua esfera de interesses onde não tolerariam intromissões externas – a doutrina Monroe. O presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, não tem tido uma conduta exuberante que chame a atenção dos média norte-americanos como acontece com o seu vizinho venezuelano Hugo Chávez, mas a sua reeleição talvez merecesse deles um maior destaque.

Nem que fosse porque aconteceu num dos dez maiores países do mundo, quando considerada a área territorial, a população ou a produção económica. O que também confere ao Brasil o estatuto de uma das maiores democracias do Mundo... Se calhar, em substituição da doutrina Monroe, os Estados Unidos estão a entrar, em política externa, na fase da doutrina Bush: como menosprezar sistemática e involuntariamente todos os países estrangeiros.

É uma doutrina que não lhes tem estado a produzir grandes resultados (veja-se o Iraque) e, como aconteceu com a doutrina Monroe, é também uma doutrina cujas consequências se arriscam a prolongar-se muito para além do período da administração do presidente que lhe deu o nome de baptismo. Mas, pensando melhor e estando nós no estrangeiro, é evidente que os norte-americanos nunca levarão em consideração o que por cá se pensa acerca da sua nova doutrina…

Nota: É possível que, sendo os jornais digitais, a ordem das notícias se vá alterando ao longo do dia. Mas era este o destaque relativo das ditas quando inseri este poste.

4 comentários:

  1. Irónicamente, o "Guardian" ignora totalmente a eleição brasileira, mas contudo dá honras de 1a página a "Climate Change e Global Warming" não vá a Floresta de Sherwood ser mais importante que a Amazónia...

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  2. Se os Estados Unidos parecem já ter abandonado a doutrina Monroe, o Reino Unido, aliado escrupuloso e cumpridor até ao fim, ainda não assumiram isso: tudo o que se passar na América do Sul não é com eles.

    Aliás, numa perspectiva britânica, a América do Sul é um continente donde só vêm chatices: ele são invasões dos restos do império (Malvinas/Falkland), ele é pedidos de extradição de ex-chefes de estado em tratamento no seu território (Garzon pedindo a extradição de Pinochet)...

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  3. Ele é o rapaz do assalto ao comboio-correio gozando o belo sol do Brasil e preterindo o "fog", tão querido aos súbditos de SM...

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  4. O Brasil não é um assunto mediático na agenda norte-americana e os efeitos da eleição de um novo Presidente não irão provocar grande alteração no presente estado de coisas. O que até deve ser considerado como um indicador positivo para o Brasil.
    Além disso, é natural que o "quarto dos fundos" há medida que vá prosperando venha a tomar o seu lugar no placo mundial sem grandes alarvidades.

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