27 outubro 2006

A CANDIDATA

Hoje, que se procedem às eleições internas no PS para o seu próximo Congresso, não quero deixar de manifestar aqui a minha discordância quanto ao facto dos militantes que apresentaram outras moções estratégicas globais não terem apresentado simultaneamente ninguém que concorresse ao cargo de secretário-geral.

Como oportunamente aqui me referi, a propósito dos comentários despropositados na televisão de Marcelo Rebelo de Sousa que condenava a abolição daquela prática nos Congressos do PSD e do CDS, é uma questão de pura (falta de) lógica que me impede de compreender como é que alguém poderá prosseguir uma estratégia não subscrita por si.

Ora isso é um risco inerente a quem permita estatutos em que não haja correspondência entre as moções de estratégia e uma equipa que se responsabilize por levá-la a cabo, em concreto. E não gozará da minha grande simpatia o gesto de quem se aproveite dessa incongruência propondo-se a um dos sufrágios mas furtando-se ao outro.

Eu bem sei que a actividade política desenvolveu nos últimos 30 anos uma gramática repleta de episódios de faz de conta: são os longos textos de José Pacheco Pereira abordando a reforma dos partidos onde acaba por não aparecer uma única medida concreta ou os discursos arrebatadores de Jorge Coelho que arrebatam aplausos da assistência, mas que não contêm nada de substantivo.

Quem quiser romper com essas encenações (atitude que muito respeito) tem também de fugir a essa gramática do discurso genérico e inócuo e da manobra de estilo e concentrar-se no debate concreto dos problemas concretos como aconteceu, por diversas vezes, nas caixas de comentários do blogue Solidariedade e Cidadania.

Faltou o(a) candidato(a) a secretário(a)-geral, e essa é uma lacuna que considero muito importante, mas talvez venha a valer a pena, apesar disso...

2 comentários:

  1. Não deixa de ser curioso observar a semelhança entre a eleição presidencial no Benfica e o Congresso do PS.
    Num e noutro caso, apenas um candidato e uma vitória anunciada, sem surpresas nem oposição.
    Só uma nota para o citado Jorge Coelho que hoje é homenageado no Expresso por Fernando Madrinha que lhe enaltece a coragem, ao demitir-se após a queda da ponte de Entre-os-Rios.
    Pessoalmente, considero que foi um acto de cobardia e de oportunismo.
    O dever de Coelho, como Ministro, era ficar e tudo fazer para averiguar, investigar, espiolhar até encontrar causas e responsáveis.
    Esse, sim, era o seu papel, essa a sua missão, e não fugir como um coelho.
    Se o tivesse feito, talvez a culpa não tivesse morrido solteira, como agora anda para aí a clamar, qual viúva inconsolável.
    Um bocado de pudor e de vergonha deveria ter o senhor Coelho.
    E ficar calado.

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  2. A utilização repetida que Jorge Coelho tem feito da sua demissão - como uma espécie de "medalha de serviços distintos pela assunção de responsabilidade política" - desmentiu completamente, para quem dúvidas teve, as intenções que estiveram por detrás do gesto.

    É alardeado vezes demais e com demasiado vigor para um gesto que seria necessariamente sempre penoso e de penitência por um clamoroso fracasso governamental. Isto para não dizer nada a respeito do respeito pelos mortos que ocasionou.

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