04 agosto 2006

A CONFERÊNCIA DO CAIRO


A Conferência do Cairo, realizada em Novembro de 1943, durante a 2ª Guerra Mundial e com a presença do Presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill, e o Generalíssimo chinês, Chiang Kai-shek, teve uma cenografia imponente mas não serviu para decidir quase nada de relevante. Os Estados Unidos, especialmente o seu presidente, tinham a obsessão e mantinham a ficção que a China era – ou viria a ser – um dos grandes do Mundo do pós-guerra imediato e a Conferência desenrolou-se para sua satisfação. Os britânicos – antes como hoje – obrigaram-se a alinhar relutantes na paródia e os russos – antes como hoje – não se prestaram a essas cortesias e nem lá foram.

Em contrapartida, a Conferência foi rica em episódios cómicos, protagonizados sobretudo pelos chineses, como o ocorrido quando um dos chefes militares anglo-saxónicos – possivelmente Mountbatten – estava a persuadir Chiang Kai-shek a alinhar o calendário das operações na Birmânia pelo ritmo das monções e foi interrompido pelo tradutor: aparentemente, o generalíssimo não estava a perceber nada do que lhe estava a ser explicado porque desconhecia completamente a existência do regime climático das monções que, aliás, não existia na China…

Não se pense contudo que os disparates se cingiram à parte chinesa. Entre americanos, quando o general Stilwell, comandante das forças norte-americanas na China foi solicitar ao Presidente Roosevelt o envio de um Corpo de Exército de tropas norte-americanas para aquele teatro, este propôs-lhe o envio de um Regimento de Fuzileiros (cerca de um décimo do pedido, tanto em efectivos como em potencial de combate…) porque aqueles gozavam de um prestígio entre os chineses superior ao que o exército gozava… Em suma, a um pedido de meios militares Roosevelt respondeu com uma espécie de operação alargada de relações públicas militares…

Verídicos, mas enterrados, o conhecimento e a menção destes dois episódios mais infelizes estará reservada a historiadores e a biógrafos meticulosos ou aqueles que pretendam por qualquer razão arrasar as reputações históricas dos dois dirigentes mencionados. Talvez estejamos a pedir aos dirigentes mundiais da actualidade – comigo incluído nesse erro – uma categoria intelectual mítica que pode nunca ter existido...

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