21 julho 2006

ISRAEL

Aparentemente, não tarda que o dispositivo militar israelita no norte de país esteja constituído por forma a que ele possa entrar em movimento, invadindo o sul do Líbano, e dando um aspecto mais convencional à guerra híbrida que tem estado a travar ao longo da fronteira contra o Hezbollah. Quanto mais tempo demorar poderá ser um indicativo da resistência que os israelitas esperam vir a encontrar.

Seria uma grande surpresa, embora não fosse impossível, que, desta vez, as forças armadas israelitas não conseguissem atingir os objectivos tácticos a que se propõem. Os acontecimentos naquela região tendem a repetir-se nos preliminares embora nunca haja a certeza que aconteça o mesmo quanto à conclusão. Poderá mesmo vir a ser lido como receio – e como tal uma fragilidade – israelita, se o Hezbollah não vier a ser desalojado.

Recorde-se que Israel venceu consecutivamente a Guerra dos Seis Dias (1967) e a do Yom Kippur (1973), ambas convencionais, contra dois grandes inimigos (Egipto e Síria), mas como se veio a saber muito depois, do ponto de vista militar a segunda delas foi vencida mesmo à tangente, com todo o apoio que os Estados Unidos naquela altura puderam disponibilizar. Em guerra, nunca pode haver garantias.

Há quem diga que isso – um outro conflito convencional poderia não correr de feição e Israel não se pode permitir perder nenhuma guerra no terreno – terá sido uma das causas principais que contribuiu para a assinatura dos Acordos de Camp David (1979) entre Israel e o Egipto. Assim se encerrou a inimizade entre Israel e o Egipto. Mas inimigos foi coisa que Israel nunca teve falta.

Ao reactivar-se agora – se isso vier a acontecer – a invasão do sul do Líbano, também esta será uma reencenação de uma outra operação (1982), baptizada na altura Paz para a Galileia* e dirigida pelo mesmo Ariel Sharon cujo desaparecimento recente (continua em coma) é capaz de ser uma das causas para que os acontecimentos estejam a decorrer da forma que decorrem. Segundo as sondagens, a popularidade de Olmert é agora enorme.

Como aconteceu repetidamente no passado, as vitórias militares (1967-1973-1982) de Israel acabam por ser desbaratadas na mesa de negociações porque as posições de força dali obtidas acabam sempre por se desvanecer. Do lado israelita já se poderia ter concluído que os interlocutores cordatos e fiáveis que eles desejariam encontrar do outro lado da mesa não devem existir.

Para negociar, ficam os outros, os maus e os péssimos e ambas as categorias só entendem a linguagem da força. Entre os dirigentes de Israel é capaz de existir uma escola que defenda que uma operação militar de grande envergadura de quando em vez amacia a oposição árabe da mesma forma que a sua artilharia amacia o terreno que se preparam para invadir no Líbano.

Mas, dizem os grandes mestres da guerra as vantagens militares obtidas têm que ser um meio para um objectivo político como seja a neutralização - pela conclusão de um acordo de paz - de mais um dos seus inimigos da região, e nunca um fim em si mesmo.

O que pode - e costuma - acontecer é que Israel ganha, com estas operações renovadas, mais uma meia dúzia de anos mais tranquilos a que, se nada se modificar em termos de acordos políticos, se seguirá um outro novo período turbulento. No fundo, há que reconhecer que, no que concerne ao longo prazo e à grande estratégia, o tempo e, com ele, a demografia estão do lado dos árabes e os israelitas é que têm a geografia contra si.

* Tendo sido escolhido um nome para a operação destinado a ter repercussão doméstica, internacionalmente o nome revelou-se um enorme fiasco e serviu mesmo de arma de arremesso mediática contra Israel.

1 comentário:

  1. E se, desta vez, não forem salvos pelo "gong"?
    Os americanos andam muito ocupados... e são capazes de não chegarem para estas "encomendas"!

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