28 junho 2006

L de BANAL

O que eu talvez mais admire em Michael Moore não serão as causas pelas quais se bate e pelas quais ganhou tanta notoriedade, mas o facto de, pela sua compleição, vestuário, atitude e boné de beisebol, ser um dos norte-americanos que me parece melhor representar a essência de se ser… norte-americano.

As imagens que eles transmitem ao vivo, seja como turistas no estrangeiro, seja no seu próprio país, são as de um povo que, no geral, têm uma tradição de uma alimentação exageradamente hiper calórica, sem grandes preocupações com a sua apresentação nem com a etiqueta. É essa a população tipo num qualquer documentário, cobrindo, por exemplo, as famílias dos soldados destacados no Iraque.

Intriga-me saber onde escondem a tal população quando passam séries na televisão como os vários CSI, O Sexo e a Cidade, 24, ou Donas de Casa Desesperadas, onde tanto a esmagadora maioria dos actores, como a dos figurantes, são de esbelteza a toda prova e de uma apresentação cuidada.

Suspeito até que essa selecção também exista nas audiências dos programas gravados ao vivo com audiências, como os da Oprah, Dr. Phil ou Jay Leno. Preste-se bem atenção e ver-se-á a dificuldade em encontrar um daqueles americanos tradicionais como nós os gostamos de imaginar, gordos, casuais, de t-shirt.

Toda esta América televisiva, em que se ficciona a imagem que ela transmite de ela mesma, recebeu recentemente um reforço com a transmissão no canal 2: de uma nova série chamada A Letra L, muito propagandeada pelo sucesso que já obteve, e que gira à volta de um grupo alargado de amigas lésbicas de Los Angeles.

Sem pretender ferir susceptibilidades, poder-se-á dizer que o perfil físico de todas as protagonistas estará um pouco distante do que a maioria das pessoas imaginará que se pode encontrar em locais tradicionais de encontro da comunidade lésbica. Ou, posto doutra forma, naquele grupo de 9 actrizes, há tipos físicos femininos que se repetem, e outros que estão especificamente ausentes.

Falando da minhas opinião sobre a série propriamente dita, depois do primeiro impacto do exotismo das relações ou das complicações decorrentes das relações serem exóticas, creio que o interesse pela série começa a esmorecer, sendo o ritmo desse decréscimo definido pelo voyeurismo do espectador. No fim, antecipo que se venha a tornar uma série banal com a curiosidade de haver uma notória ausência de pilas no elenco.

Entre os franceses empregava-se, a propósito de produções como esta, a expressão épater les bourgeois – espantar os burgueses. Agora, que os americanos estão zangados com os franceses, nacionalizaram as batatas fritas e devem ter desistido de ter burgueses, quem é que eles pretendem espantar?

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