02 junho 2006

ERA UMA VEZ…NA OCEÂNIA

As diversas análises dos acontecimentos em Timor têm-se defrontado com dificuldades na obtenção de respostas sobre o significado de vários acontecimentos. Muitas das informações que aqui chegam – estamos do outro lado do mundo! – apontam claramente para um argumento de Western (Xanana é bom e Alkatiri é mau), deixando por responder as outras questões que entretanto se levantam.

Na ausência de algumas respostas mais precisas, podemos ficcionar um pouco do que estará a acontecer por aquelas paragens, onde uma potência regional – Austrália – está a aproveitar o vácuo deixado por outra – Indonésia – e a pretender marcar posições nos territórios adjacentes ao seu enorme país. Isso é visível no regime de supervisão que a Austrália mantém nas relações com os pequenos países adjacentes: Papua Nova Guiné, Salomão, Vanuatu, Fiji e, pelos vistos, agora Timor.

Curiosamente, em todos os países mencionados a Austrália já interveio no passado com contingentes militares e/ou policiais no seguimento de distúrbios que minaram a autoridade do poder político vigente na altura. Há aqui uma repetição de padrão que nos leva a especular que talvez não se alterem receitas com sucesso ou talvez os serviços de informações, ao contrário dos blogues, não sejam propensos a rasgos de imaginação.

Uma outra curiosidade, o país da região que menos se presta às manobras australianas é a Nova Zelândia, que terá uma relação com a Austrália muito parecida à que mantemos com os nossos vizinhos espanhóis: pertencendo ao mesmo espaço geoestratégico e às mesmas alianças mas mantendo uma rivalidade latente. Portanto, os contingentes neozelandeses nas forças de intervenção podem não ser uma ampliação de capacidade das forças australianas mas sim um aborrecimento e uma limitação para estas últimas.

Um pormenor que se deve ter perdido no enorme fluxo de informações entretanto postas a circular é o das aproximações entre o Major Reinado e a Austrália, onde, segundo se sabe, teria estado refugiado. O Major Reinado poderá ser considerado um dos três vectores da manobra australiana, sendo outro alguns dos grupos que conferiram ao país a imagem de insegurança – tudo feito de uma forma clandestina como uma operação do género deve ter – e o terceiro as exuberantes intervenções nos jornais australianos da Madame Gusmão.

Definitivamente, é bem possível que os australianos não estejam satisfeitos com Mari Alkatiri, que vai ter de saltar. Se não saltou a bem no Congresso da Fretilin, vai a mal. E Ramos Horta, já se tendo apercebido disso, é capaz de estar interessado em minorar os estragos e trocar os negócios estrangeiros pelos negócios do interior. Alkatiri, entretanto, não é nenhum anjo e sacrificou dois dos ministros às suas ambições de permanecer no poder, mas está longe de ser o incompetente índio do filme de cowboys da versão mediática que circula por aí.

Que saudades do tempo da guerra-fria, onde se podia acusar os soviéticos malvados montavam manobras sórdidas como estas. Actualmente, é evidente que não se pode aceitar que se acusem países aliados como a Austrália de montar manobras tão ínvias como as descritas. O que leram não passa, evidentemente, de ficção vinda da imaginação tenebrosa do autor do blogue.

2 comentários:

  1. a realidade ultrapassa muitas vezes a ficção...

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  2. O criador tem de dar sentido à ficção. A realidade, espontânea, nem precisa disso.

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