19 março 2006

A REVOLTA DE NIKA

Em Janeiro de 532, reinando o imperador Justiniano em Constantinopla, ocorreu ali uma das revoltas populares mais sérias que chegou a pôr em causa a continuação de Justiniano no trono.

Segundo os relatos que chegaram até nós, foi dos grupos de apoiantes das equipas do hipódromo*, organizados de uma forma muito semelhante à das actuais claques dos clubes de futebol, que partiu a iniciativa e as tropas que tentaram assaltar o palácio e que puseram a ferro e fogo a cidade durante cinco dias.

Mau grado o detalhe da narrativa do que aconteceu, ainda hoje é quase um total enigma a compreensão sociológica das condições que levaram á revolta da população urbana da cidade mais próspera daquele período da Antiguidade.

Esse período, precedia a fase em que metade oriental do Império Romano, de que Constantinopla era a capital, ainda mostraria a vitalidade que lhe permitiria reconquistar aos germânicos os territórios africanos, a península italiana, as grandes ilhas mediterrânicas (Sicília, Sardenha e Córsega) e uma extensa faixa da península ibérica.

Nesta conjuntura histórica, a Revolta de Nika (assim ficou conhecida para a história), aparece como um epifenómeno produzido por populações saciadas e bem instaladas, dissonante num mundo de forças envolvidas em grandes transformações.

Será algo de muito parecido com isto que o futuro irá pensar das consecutivas revoltas em França?

* As corridas de quadrigas organizavam-se em 4 equipas de cor diferente: verde, azul, vermelho e branco. No tempo de Justiniano as equipas com maior número de sócios eram os verdes e os azuis. Quem quiser saber mais alguma coisa veja aqui, em inglês.

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