15 março 2006

MEGALÓPOLIS

Este CD que aqui aparece na figura do lado tem o título de Megalópolis e encontra-se esgotado. O autor chama-se Herbert Pagani, é de origem líbia e judaica, mas foi em Itália e em França que mais se destacou enquanto autor e cantor.

Pagani, que morreu em 1988 com 44 anos, é um daqueles autores que classifico de globetrotters das palavras, porque como um dos jogadores dos Harlem Globetrotters a brincar com as bolas de basquetebol, demonstra uma facilidade em as manipular que assombra.

Se, no caso da minha língua materna, respeito imenso exemplos como o de Chico Buarque, o caso de Herbert Pagani ainda é mais intrigante porque o aprecio a fazê-lo num idioma que nem sequer é o seu idioma materno: o francês.

Eis um exemplo, de uma música de 1975, chamada L´Amitié (A Amizade), uma letra simples, que parece assim ter sempre existido e não ter custado nada a escrever:

L´Amitié*

Ça fleurit comme une herbe sauvage

N'importe où, en prison, à l'école,

Tu la prends comme on prend la rougeole

Tu la prends comme on prend un virage

C'est plus fort que les liens de famille

Et c'est moins compliqué que l'amour

Et c'est là quand t'es rond comme une bille

Et c'est là quand tu cries au secours

C'est le seul carburant qu'on connaisse

Qui augmente à mesure qu'on l'emploie

Le vieillard y retrouve sa jeunesse

Et les jeunes en ont fait une loi.



C'est la banque de toutes les tendresses

C'est une arme pour tous les combats

Ça réchauffe et ça donne du courage

Et ça n'a qu'un slogan "on partage"



Au clair de l'amitié

Le ciel est plus beau

Viens boire à l'amitié

Mon ami Pierrot



L'amitié c'est un autre langage

Un regard et tu as tout compris

Et c'est comme S.O.S. dépannage

Tu peux téléphoner jour et nuit

L'amitié c'est le faux témoignage

Qui te sauve dans un tribunal

C'est le gars qui te tourne les pages

Quand t'es seul dans un lit d'hôpital



C'est la banque de toutes les tendresses

C'est une arme pour tous les combats

Ça réchauffe et ça donne du courage

Et ça n'a qu'un slogan : "on partage"



Au clair de l'amitié

Le ciel est plus beau

Viens boire à l'amitié

Mon ami Pierrot


Em 1980, o PS aproveitou esta música para servir na campanha da FRS. A FRS, recorde-se, era a Frente Republicana e Socialista, uma pseudo coligação que o PS fez com um grupo de amigos (a ASDI e a UEDS) a fingir que eram muitos. Correu mal: o PS perdeu novamente as eleições para a AD. Donde se conclui que nem uma canção excelente salva uma campanha mal montada…


*A Amizade

Desponta, como uma erva selvagem
Não importa onde, na prisão ou na escola
Apanha-se como o sarampo
Apanha-se ao virar a esquina
É mais forte que os laços de família
É menos complicado que o amor
E está lá, quando estás bêbado que nem um cacho
E está lá, quando pedes socorro
É o único carburante que se conhece
Que aumenta à medida que se usa
Os velhotes recuperam a sua juventude
E os jovens fazem dela uma lei

É o banco de todas as ternuras
É uma arma para todos os combates
Aquece e dá coragem
E só tem um mote: "compartilha-se"

À luz da amizade
O céu é mais bonito
Vem beber à amizade
Meu amigo Pierrot

A amizade é uma outra linguagem
Um olhar e está tudo dito
E é como os SOS da urgência
Podes telefonar dia e noite
A amizade é o falso testemunho
Que te salva num tribunal
É o gajo que te vira as páginas
Quando estás só numa cama de hospital

É o banco de todas as ternuras
É uma arma para todos os combates
Aquece e dá coragem
E só tem um mote: "compartilha-se"

À luz da amizade
O céu é mais bonito
Vem beber à amizade
Meu amigo Pierrot


Tradução minha, quase literal, sem veleidades poéticas e uma correcção adicional que muito agradeço.

4 comentários:

  1. Esta e as outras canções desse disco são muitíssimo boas. E mais, são quase premonitórias! Tenho pena de não encontrar reedições em CD.
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  2. Sou um sortudo! Da m/ colecção constam 3-CD's-3 desse Senhor! Não consegui, porém, encontrar a reedição dos 2 "33rpm" que já tinha: "Pagani a Bobino" e o citado "Megalopolis".
    Se lhe interessar, os CD's que possuo são: "Le meilleur de Herbert Pagani" - EMI - 829075 2 - PM 516; "Chez nous" - EMI -7243 4 99549 2- PM 520 (com excertos do "Megalopolis"); "Concerto pour Venise" - EMI - 4975852 - PM 804.
    Foram comprados em Paris, mas não recordo em que discotecas. Mesmo nos "usados" são difíceis de encontrar e, se conseguir, em CD o "Pagani a Bobino" que, para mim, é o melhor dele, agradeço que faça constar.
    E eu a pensar que, após todos estes anos, já ninguém se lembrava do: "Les dingues comme moi ça rend service/et toutes les nuits passées à la police/ne m'empêcheront pas de recommencer/demain."
    Ainda há surpresas!!!

    ResponderEliminar
  3. Ouvir um libanês cantar em francês sempre é melhor que ouvi-lo cantar em árabe... pelo menos para mim!
    Um admirador de Brel e de Ferré que se dividiu entre a pintura e a canção, aglutinadas nas "Leçons de peinture": "...moi qui chante ta terre a tes propres enfants/moi qu'à force d'amour ai perdu mon accent/et te taille en français des quatrains sur mesure/comme bien des amants j'ai aussi ma blessure/que je garde secrète, mais qui saigne pourtant...".
    Obrigado pela recordação!!!

    ResponderEliminar
  4. Hum...É sempre bom recordar Pagani...Já há muito tempo que não me lembrava de uma canção dele

    ResponderEliminar