30 março 2006

JORGE SAMPAIO

No tempo do PREC tivemos uma sociedade em transição para o socialismo, 25 anos depois, tivemos um presidente em transição para a emoção. É vê-lo nesta fotografia, que ele está quase… Ele há registo de estadistas que se emocionavam com muita facilidade - Churchill era um deles - mas os portugueses também devem estar orgulhosos de ter tido um campeão, embora ainda falte fazer a devida avaliação, medida em lenços encharcados por cerimónia. Infelizmente, pouco mais houve de divertido nos dois mandatos de Jorge Sampaio. Fui descobrir uma síntese que se encaixa perfeitamente no que penso de Jorge Sampaio numa avaliação – veja-se lá – das condições da derrota alemã em Stalinegrado, na Segunda Guerra Mundial: Os maiores talentos militares não teriam salvo o exército alemão de uma derrota (em Stalinegrado) em 1942; as insuficiências particulares de Paulus (o comandante alemão) contribuíram para lhe conferir um carácter esmagador. A evolução da sociedade portuguesa nos últimos dez anos não tem nada do carácter catastrófico da derrota alemã, mas é indiscutível que há um certo travo de insatisfação por se terem andado a iludir as questões prementes da nossa sociedade. E a presidir a toda essa encenação esteve Sampaio, presidente eleito e reeleito pelos portugueses – ao contrário de Paulus, que só tinha de responder a Hitler – a quem a história há-de vir a julgar pelo seu desempenho. Como Paulus antes dele, também Sampaio criou uma estrutura argumentativa para (não) ter agido como o fez, apesar da coacção que incidiu sobre eles para que procedessem de outra forma. Desconfio que o tempo fará à de Sampaio o que fez à de Paulus – que se pode constatar na citação acima. Não me surpreenderia que um capítulo, escrito no futuro, sobre a presidência de Jorge Sampaio terminasse com uma adaptação daquele parágrafo. Com a limpidez de ser escrito numa época em que a pessoa de Sampaio já não terá relevância para a luta política da época. Há, contudo, uma virtude em tudo isto – e uma grande diferença entre os dois casos – que convém não ficar esquecida: Sampaio foi eleito e reeleito democraticamente pelos portugueses. Por isso, compartilhamos, enquanto sociedade, uma quota-parte da responsabilidade das suas insuficiências.

1 comentário:

  1. Parece-me que existe aqui uma inversão de valores!
    Jorge Sampaio estava na pele do sitiado e só esporadicamente conseguiu romper o cerco, ganhando uma ou outra escaramuça.
    Em Estalinegrado von Paulus foi derrotado pelos sitiados!

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