14 fevereiro 2006

WATERGATE

Os Homens do Presidente (All the president´s men) deste filme que descreve as investigações de dois jornalistas do jornal Washington Post na sequência do assalto à sede de candidatura do Partido Democrático situado no edifício Watergate, não são Redford ou Hoffman, nem Bob Woodward ou Carl Bernstein (os verdadeiros jornalistas originais) mas antes a equipa de mão ao serviço do presidente Nixon destinada a promover as operações sórdidas que o presidente e os seus assessores próximos julgassem necessárias.

Na ressaca dos acontecimentos dos inícios da década de 70, que culminaram com a demissão de Nixon (em Agosto de 74) para evitar que fosse demitido pelo Congresso, ficou, entre outras coisas, o valor da perseverança no jornalismo de investigação, uma imagem transmitida pela América para o Mundo de que, no seu sistema político, ninguém podia ficar acima da lei e o sufixo gate como sinónimo de bronca da grossa, usada depois a propósito e a despropósito pela imprensa.

Mas, nem mesmo nessa altura, com a cadeira presidencial a ser ocupada por alguém que se pode considerar muito económico com os escrúpulos, nem anos depois, quando a mesma cadeira foi ocupada por alguém que não percebia grande coisa do que estava a ser discutido e aproveitava para passar pelas brasas (Reagan), se assistiu a um grau de insegurança e imprevisibilidade quanto ao conteúdo das decisões oriundas da Casa Branca, como acontece actualmente.

É que, mais do que a pessoa do presidente, parece ser todo um clã que o rodeia que está sob suspeita. Deve haver quem tenha saudades do tempo em que o maior problema da presidência eram os gostos do seu titular para perfumar charutos. Mau grado as correcções visíveis durante este segundo mandato, o capital de confiança disponível pela Casa Branca por parte de muita opinião pública mundial permanece no negativo: não só nem acreditam no que eles dizem mas até suspeitam que estejam a mentir.

Assim sendo, a capacidade de mobilizar vontades, de propor e liderar soluções para os grandes problemas com que o Mundo se defronta mostra-se estranhamente vazia. E nem mesmo a solução do impeachment de Bush – tão do agrado de um amigo meu – resolveria a questão: legalmente, o sucessor teria de ser Cheney, o caçador…
O Mundo anda perigoso e a percepção geral é que um dos maiores perigos vem justamente da Casa Branca…