20 fevereiro 2006

THE TRUTH IS OUT THERE?

Mais do que a própria série X-Files, gostaria de evocar o slogan da série (the truth is out there) e a utilização perversa que, por vezes, é feito dele, procurando arquitectar um enredo de conspiração sinistro a algo que se pode afigurar linearmente simples. É o que recordo que seria o maior calcanhar de Aquiles daquela série: um argumento que fazia que andava, se adensava, se enevoava, mas que depois não chegava a lado nenhum.

Vem isto a propósito das vicissitudes que o desmantelamento do antigo porta-aviões francês Clemenceau que, ido de França para ser desmantelado nas Índias, de greenpeacers protestantes atrelados aos costados, regressa agora para trás, por causa dos materiais poluentes (amianto, entre outros) que contém, lembrei-me de as comparar com as outras (poucas) marinhas de guerra do Mundo que têm possibilidades de possuir navios daquela dimensão.

Excluindo à priori os russos, que devem deixar que o óxido de ferro proceda ao desmantelamento natural das embarcações (será este o verdadeiro processo ecológico?), quero crer que só os britânicos (na mesma escala dos franceses) e os americanos (numa proporção muitas dezenas de vezes superior) compartilham com os franceses as angústias do que fazer com um porta-aviões usado.

E, curiosamente, embora a memória possa sempre ser traiçoeira, não me recordo de nenhum grande episódio controverso relacionado com o desmantelamento de grandes unidades navais norte-americanas (e a proporção deve ser, pelo menos, de 10:1 em relação às francesas).

Comece-se agora a compreender agora todo o encanto que, na América, os assuntos de ambiente parecem constituir, um país recheado de ambientalistas, mas onde não parecem existir incidentes significativos nessa matéria, pelo menos a fazer fé na cobertura mediática. Segundo ela (a tal cobertura mediática) os problemas ambientais são como a verdade no mencionado slogan dos X-Files: the truth is out there.

Os problemas out there são no Japão que caça baleias e não devia, no Brasil que abate árvores e não devia, no Canadá que caça focas e não devia, na Alemanha que transporta resíduos nucleares por comboio e não devia ou na França que quer agora desmantelar um porta-aviões e não deve.

Depois há os relatórios menos mediatizados, como os da ONU, que atribuem aos Estados Unidos 20 a 25% da poluição global do planeta, ou, mais pormenorizadamente, os planos para o afundamento de um dos seus porta-aviões antigos no mar alto para que sirva de recife artificial sem que o acontecimento pareça provocar sequer um franzir de sobrolho do hipervigilante Greenpeace… Não se arranja um produtozinho qualquer que possa inquinar as águas?

The truth também is here, só que os tais ambientalistas norte americanos, selectivamente, parecem ter uma reacção muito parecida com uma nossa apresentadora da televisão: Isso agora não interessa nada!!

PS - Por falta de oportunidade não fiz a distinção no poste entre o que designo por ambientalista, indivíduo exuberantemente empenhado na defesa do planeta e e um responsável pelo ambiente que se encarrega de propor medidas alternativas, exequíveis e economicamente comportáveis para a solução dos mesmos problemas ambientais.