06 fevereiro 2006

QUEM NÃO PRECISA DE TERAPIA OCUPACIONAL

É dos cânones alertar quem ocupa os lugares de decisão cimeiros para que não caiam na designada “armadilha da actividade” – activity trap, quando queremos falar em estrangeiro para passar por consultores de renome.

É o tipo de situação que ocorre quando não se consegue fazer a distinção de entre os problemas que ocorrem para resolver, entre aqueles que são importantes e aqueles que são apenas urgentes

Acresce que, na actividade política, os últimos são normalmente os que são ampliados pela comunicação social, pela necessidade das suas próprias necessidades e agendas, o que leva a que se tornem urgências muito badaladas.

Mas a grande verdade é que os problemas importantes raramente são urgentes e os urgentes só muito esporadicamente são importantes. E quem gasta tempo a dedicar-se a uns pode ficar sem tempo para dedicar aos outros.

Ou, dito de uma forma ainda mais prosaica, urgente é ir à casa de banho e importante é preencher e entregar a declaração dos impostos. Não há importância naquilo que fazemos na casa de banho, nem urgência na entrega da declaração dos impostos – a não ser que estejamos no último dia…

Agora a grande chatice é que, como ouvi de um alentejano sábio, todas as coisas levam o seu tempo e há de certeza muitas coisas urgentes que, ao contrário do exemplo anedótico da ida à casa de banho do parágrafo anterior, se podem delegar noutras pessoas.

E se o Engenheiro Sócrates (é nele que estou a pensar) estiver, como deve estar previsivelmente, assoberbado de trabalho, não se deve esquecer que nos assuntos urgentes sempre há quem os possa ir resolvendo, mas que nos importantes, a responsabilidade pela sua resolução, decorrente dos resultados eleitorais, é exclusivamente sua.

Por tudo isso é que ocorre perguntar: que raio de ideia foi aquela de herdar o cargo do Jorge Coelho no PS?

PS - Embora não queira postar sobre o assunto por visível saturação blogosférica, nem quero deixar dúvidas sobre qual a minha postura a propósito da controvérsia das caricaturas do jornal dinamarquês. Se aqui defendi a legitimidade e liberdade do Hamas para formar governo na Palestina, foi no pressuposto de exigir reciprocidade no respeito por parte do mesmo Hamas sobre aquilo que se publicou na Dinamarca.