15 fevereiro 2006

ESTRATÉGIAS COMUNICACIONAIS

Antes de 1989 e da queda do muro havia uma patrulha militante, composta esmagadoramente por simpatizantes comunistas, que eram (são) militantes por inerência, e que não nos deixavam chamar Rússia à União Soviética. Sempre que alguém se descaía e tentava simplificar, havia algum vigilante do rigor geográfico que fazia a correcção visto que a Rússia representava apenas 55% da população e 75% do território da União Soviética.

Sem disporem dessa (ou doutra) equipa vigilante e atenta para os proteger, tanto o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte como o Reino dos Países Baixos deixavam-se (e deixam-se) tratar displicentemente pelas designações simples de Inglaterra e Holanda, designações correspondentes às suas províncias principais. Nem sei que designação alternativa à de holandês existe para um habitante dos Países Baixos: será país-baixista?

Serve-nos esta pequena história de exemplo para que nem estas estratégias de comunicação muito bem montadas podem servir de alternativa à substância dos acontecimentos. O que chamávamos à União Soviética no exterior foi irrelevante para a sobrevivência do Império Russo que se desmoronou em 1989, independentemente do nome que se lhe quisesse dar.

Ora bem, a estratégia comunicacional de anunciar que o défice de 2005 ficará ligeiramente abaixo dos 6% do PIB, o que é excelente porque supera o que se estava à espera, não pode transformar esta notícia numa óptima notícia porque, na realidade, o défice continua a assumir um valor colossal!

Se bem entendi, o verdadeiro objectivo e o programa que o governo firmou passa por uma redução progressiva do défice ao longo dos anos até atingir os valores consentâneos com o PEC europeu (2 a 3%). Até agora, o que aconteceu é que, não se tendo reduzido ainda défice nenhum, os números que se apuraram bateram certo com as estimativas e até as superaram. Posto de outra maneira: o governo não se despistou logo na primeira curva. Ainda bem! Mas deve saber que só agora começa a parte mas difícil.

E quem começa a festejar assim à segunda-feira um trabalho que só estará terminado lá para o fim de semana...