24 fevereiro 2006

AS TÁCTICAS

Há normas de conduta da blogosfera a que eu, simplório recém-chegado, ainda não me habituei. Há outras a que não faço tenção de me habituar. Entre as primeiras, há as formas de tratamento, quais cortesias de cenografia teatral de Corte de D. João V: meu caro para aqui, meu caro para acolá – quase não há baratos, nem lojas de chineses na forma de tratamento na blogosfera.

Entra as segundas, conta-se um certo estilo infantil de comentar, argumentar e contra argumentar nas caixas de comentários dos blogs que as têm. Sem querer rivalizar com colegas de blogosfera que estão em curso de produzir doutrina mais substancial sobre esta matéria, o referido estilo pode ser sintetizado em acções de copy, paste dos argumentos de outrem a que se martela depois uma contradição e depois se acha imensa graça…

Por exemplo, se eu escrever numa caixa de comentários que acho o que acho porque defendo A e B, então a resposta de quem de mim discorda poderá aparecer escrito desta forma: “Defendo A e B”. Mas A e B são contraditórios! Contradisse-se! Ahahahah

Depois da experiência de um par de episódios demonstrativos de tanta puerilidade, perante a minha evidente falta de vocação para capacete azul da ONU e no limiar de mandar os dois arguentes ir brincar com a pilinha (tratava-se de dois rapazes), impus-me um regime de grande contenção quanto a comentários e a proibição de qualquer copy, paste e, por maioria de razão, do ahahahah infantil que lhe vem atrelado.

Depois de quatro parágrafos de preâmbulo convém anunciar, pomposamente, que me preparo para quebrar os votos de renúncia ao copy, paste. Por culpa de – e só podia ser por culpa de alguém de vulto – José Pacheco Pereira (JPP), o patriarca da blogosfera portuguesa, a quem devemos os nossos recentes 10 mandamentos.

No princípio deste mês, a 2 de Fevereiro para ser mais preciso, José Pacheco Pereira publicou no Público a primeira parte de um artigo analisando os problemas dos partidos políticos portugueses. Na altura enviei uma mensagem a Pacheco Pereira, felicitando-o pelo artigo e perguntando-lhe o que ele, pessoalmente, havia feito enquanto presidente da distrital de Lisboa do PSD para obstar a tal estado de coisas; a resposta ainda deve estar no correio.

Até hoje, dia 24, quando o Público publicou a segunda parte do mesmo artigo onde, lá para o fim, se consagra 1-extenso parágrafo-1 ao que pode ser feito para reformar a orgânica dos partidos:

Estas dificuldades são reais e só podem ser superadas através de uma requalificação da política, que passa não só por profundas mudanças nos partidos políticos, como também na forma de a fazer. São precisos novos instrumentos e novas formas que permitam esta qualificação das direcções “de cima”, que só podem ser levadas adiante e ganhar credibilidade quando se defronta a dupla resistência da mediocridade e dos interesses instalados, coisas que os partidos deixaram crescer até um nível crítico. Sem isso, nem por baixo, nem por cima, os partidos conseguirão manter a influência cívica na sociedade.

(José Pacheco Pereira in A fragilidade dos partidos nacionais (Público, 24/2/2006:11))

Postos perante este verdadeiro manual prático, este Plano de Acções, ouso mesmo dizer, orientador da futura reforma dos partidos, e compreendida a exequibilidade do mesmo, só nos resta arregaçar as mangas e filiarmo-nos em massa…

Falando sério, quando o José Estebes (Hermann José) dizia Eu "bou" dar as tácticas, percebia-se logo que era na brincadeira…