30 janeiro 2006

PACOTES

Aqui há uns bons anos, treze para ser preciso, dirigia o governo o senhor que foi agora eleito como Presidente da República, a economia portuguesa começou a dar sinais claros de desaceleração no seu ritmo de crescimento.

Para contrariar essa tendência, reforçando a confiança dos agentes económicos, como se recomenda nos manuais de economia, deu o referido governo em anunciar sonoramente a vinda dos fundos comunitários, que já haviam sido negociados de antemão, dando-lhes o título pomposo de pacotes.

Ele havia um pacote (de fundos comunitários, entenda-se) à segunda-feira, descansava-se à terça, outro à quarta com descanso à quinta e, como o cepticismo era generalizado, à sexta havia logo dois pacotes por causa do fim-de-semana. Arrisco-me mesmo a dizer que deve ter havido pacotes que foram reciclados para reanúncio na semana seguinte.

Embora tudo isto tivesse sido feito com a melhor das intenções, relembro aos mais esquecidos que não funcionou e a desaceleração do ritmo de crescimento da nossa economia continuou até ao ano em que o nosso futuro Presidente foi substituído naquelas funções pelo nosso Alto-Refugiado.

Toda esta história tornou-me a ocorrer quando, recentemente, comecei a ser bombardeado, também em dias alternados, com as perspectivas de um influxo quase maremótico de capitais a investir em Portugal, só que no futuro, muito lá para o futuro.

Eu bem desconfio que esse bombardeio também é feito com a melhor das intenções, pela reanimação da confiança dos agentes económicos, mas a seriedade obrigaria a que as notícias, boas e más, fossem dadas com simetria: se noticiassem as fábricas que fecham versus as fábricas que abrem ou, alternativamente, as intenções de investimento em Portugal com as intenções de deslocalização para outros países.

Assim como está, alguém que perde o emprego hoje, arrisca-se a recuperá-lo em 2009. Dito assim, não sei se será assim tão animador… Enfim, sempre será melhor que os pacotes...

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