02 janeiro 2006

DA DENTADURA DE MEU AVÔ

Tenho que reconhecer que tem faltado densidade intelectual e profundidade poética àquilo que por aqui tenho postado; nada de profundo, como as evocações de Jorge Luís Borges, o poeta argentino, aos seus antepassados portugueses: «Nada ou bem pouco sei dos meus maiores/Portugueses, os Borges: vaga gente/ Cumprindo em minha carne, obscuramente, /Seus hábitos, rigores e temores/»

Penitenciando-me, lembrei-me de recuperar uns versos de meu pai, escritos a troçar da intenção, nunca concretizada, de seu sogro passar a usar uma dentadura em substituição da dentição que tinha… desaparecido. Aprecio-os sobretudo pelo ritmo e pelas rimas:

Tudo esquece, tudo passa,
Mas recordo uma promessa,
De meu sogro, ao vir da missa:
Dentadura, linda, grossa,
Vou pô-la logo que não tussa!

Eu bem sei não ter já graça,
Mas passou-me pela cabeça,
Cometer a injustiça,
De sorrir e fazer troça,
De tão célebre dentuça!

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