28 dezembro 2005

VITOR ESPADINHA À PRESIDÊNCIA

Devem ter sido os franceses a criarem a moda das canções declamadas. Com Leo Ferré a coisa assumia mesmo uma faceta duplamente intelectual e chocante com laivos de enigmático (ele dizia coisas como: je pisse, j´éjacule, je pleure*) num apelo subentendido aos acenos compreensivos da audiência que se desejava erudita e compreensiva.

Já com Joe Dassin o estilo era muito mais ligeiro, de um sentimental quase a descambar para o piegas, e onde o cantor até se permitia umas modulações suaves na voz, acompanhando a música, como um trautear tímido de melodia de chuveiro. Havia uma parte da audiência feminina que exultava.

Cá no burgo, Vítor Espadinha (acima) tornou-se o émulo de Dassin, arrancando arrepios a uma audiência que se encantava com a profundidade de um verso como o foste o 30 de Fevereiro de um ano por inventar..., enquanto Pedro Abrunhosa foi recuperar Ferré, numa versão remodelada para os tempos modernos com o ar desleixado e a guedelha de marca do francês a metamorfosearem-se numa careca e nuns óculos escuros irremovíveis.

O que para mim os une, a todos os quatro, é uma certa sensação de fraude quando os vejo e ouço. Nem cantam nem declamam. São uma espécie de falsos artistas num espectáculo falso: dizem para ali umas coisas com uma atitude muito convicta (uns) ou então muito romântica (outros), mas fica-me a suspeita que, descontado o embrulho da atitude, o conteúdo não será substancial.

Por um momento pensem nos candidatos presidenciais e releiam o parágrafo anterior e vejam lá se não se trata disso mesmo!...

*Mijo, ejaculo, choro.

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