16 novembro 2005

AND NOW, FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT (1)*

Sempre suspeitei que a Europa teria muito a ganhar se cada país se especializasse numa actividade distinta. Aos britânicos competiria o humor, aos franceses a alimentação, aos alemães a produção industrial, aos italianos, bom, eu antes do fim do poste ainda me hei-de lembrar de qualquer coisa para eles fazerem… E quem fugisse a esta regra era sancionado: ninguém está interessado em comer comida inglesa nem em ouvir uma anedota alemã – olhem, eis dois exemplos de atentados violentos contra o ambiente sobre os quais nunca ouvi o Ferreira da Quercus pronunciar-se…
Um dos problemas dessa solução seria o das tarefas a atribuir aos países mais pequenos, que têm uma imagem de marca menos vincada do que ingleses, franceses ou alemães. E esse aspecto reflecte-se na auto-estima dessas nações, num grupo onde se inclui Portugal. Afinal, por exemplo, o que sabemos dos suecos é pouco: que têm uma língua com uma sonoridade peculiar, como se percebe nos filmes do Ingmar Bergman ou com o cozinheiro dos Marretas.
Atente-se, por exemplo, às viagens de Astérix, que deve ser o mais antigo europeísta de que há conhecimento: vai a Roma com regularidade, esteve entre os Godos, entre os Bretões, recebeu os Normandos, foi à Grécia, a Espanha, à Córsega, ao Egipto, esteve entre Suíços e Belgas, até foi à América. Das terras de portugueses, irlandeses, holandeses, croatas, dinamarqueses, suecos, checos, nada.
Mas, se Astérix não chegou a ir à terra dos Lusitanos, estes foram à Gália. No álbum O Domínio dos Deuses, na prancha 7, Goscinny (o criador do Astérix) e Uderzo (que se vinha encarregando de o desenhar e, agora, de o destruir) retratam-nos como uns sujeitos pacatos, patuscos, respeitadores, de ombros encurvados e de grande bigode à Artur Jorge. Simpático, não é?
Foi para estragar este estado de coisas que, em boa hora, apareceu o Mourinho. O Mourinho está nos antípodas dos obrigadas consecutivos que marcavam as apoteoses das actuações da Amália. O Mourinho nunca poderá actuar no Olímpia: se ele já descompõe um francês (Wenger, do Arsenal) da maneira que o faz, imaginem o que é que ele faria com uma plateia deles. E manda calar estádios de canalizadores de Manchester e de mecânicos de Liverpool, daqueles que nos visitam para aprenderem a apreciar boa cerveja e ganharem um bronzeado lagosta.
Qual Soares, qual Cavaco, qual Barroso. O Mourinho é que é verdadeiramente respeitado na Europa. Ganda Mourinho!

* Após reclamações, passo a traduzir as partes em estrangeiro. Esta quer dizer: Agora, uma coisa completamente diferente. Outro dia, era uma citação latina: Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.